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Taíza Brito

30 de otubro de 2022 vai ficar marcado na história como o dia em que o Brasil se livrou de um governo de morte liderado pelo extremista de direita Jair Bolsonaro (PL). Durante os quatro anos que esteve à frente do governo brasileiro, o ex-capitão do exército estimulou o ódio contra os opositores e a violência contra as minorias, entre eles indígenas, quilombolas, negros, comunidade LGBTIQ+, mulheres e pobres especialmente do Norte e Nordeste do país.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito por 60.345.999 votantes, ou seja, 50,90% dos eleitores, contra 58.206.354 votos recebidos por Bolsonaro, que representam 49,10% do censo eleitoral, não tem um cenário fácil pela frente. Além de vencer por uma pequena margem de votos, recebeu um Brasil dividido, com metade da população dominada pelo ódio.

O resultado desta ebulição, provocada por Bolsonaro e condimentada com uma fábrica de notícias falsas, amplamente divulgadas e absorvidas por evengélicos, militares e “brasileiros de família”, se fez ver no último dia 8 de janeiro. Foi quando uma horda pregando contra o “comunismo” e em favor da “família” atacou Brasília, a sede do governo federal, e invadiu os prédios da Presidência, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Milhares de pessoas, que estavam acampadas em frente de casernas das Forças Armadas Brasileiras desde o resultado das eleições, se sentiu livre para atacar a democracia e as instituições. Invadiram e destruíram os bens públicos, com a conivência das forças de segurança do Distrito Federal.

Milhares deles foram presos, estão sendo processados e deverão pagar por seus crimes. Os bens públicos estão sendo reparados e restaurados. A Presidência da República, assim como o STF estão agindo para restaurar a ordem. Mas os bens destruídos neste assalto não são nada diante da herança de morte de Bolsonaro.

Todos pensavam que sua pior ação havia sido durante a pandemia, que consumiu a vida de mais de 700 mil pessoas. Naquele período, Bolsonaro foi em contra as autoridades de saúde pública. Contra a máscara, contra as vacinas, contra o confinamento, estimulando as aglomerações e trabalhando contra a saúde pública.

Genocidio

Em meados de janeiro 2023, o Brasil e o mundo se deram conta da tragédia do povo yanomami. Os integrantes deste povo indígena, cuja reserva ocupa 9 mil hectares próximo à fronteira do Brasil com a Venezuela, estão morrendo de fome por conta da ação dos garimpeiros estimulados por Bolsonaro. Os números são assutadores: 570 crianças yanomamis morreram por causas evitáveis nos quatro anos do governo do extrema direitista.

Mortes por desnutrição, malária e doenças relacionadas à contaminação dos rios e o descaso do atendimento médico em meio às tensões sociais entre indígenas e garimpeiros. Além disso, há denúncias de exploração sexual e violência. A TV Globo, uma das maiores emissoras de TV do Brasil, exibiu reportagem no último dia 29 de janeiro, na qual os repórteres Sonia Bridi e Paulo Zero, mostram a situação do povo yanomami. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal e há indícios de crime de genocídio.

Tragicamente, o único caso de condenação por genocídio no Brasil também ocorreu em terra yanomami.  Foi no ano de 1993, quando 16 pessoas da tribo foram assassinadas por garimpeiros sedentos pelo ouro que existe nestas terras. Quatro pessoas foram condenadas em 1997 por estes fatos, conhecidos como a massacre de Haximu, em sentença confirmada em 2006 pelo STF.

Não é segredo, Bolsonaro sempre disse que não era justo que os yanomamis vivessem em uma terra tão rica e que a mesma deveria ser explorada. Em seu governo, impediu a fiscalização, mentiu sobre o atendimento médico e atenção a esta população ao STF e à Organização dos Estados Americanos (OEA). Recebeu garimpeiros em seu escritório e negou sistematicamente ajuda aos yanomamis.

O sofrimento do povo yanomani não é unico. Bolsonaro agiu contra diversos coletivos em seus mandatos como deputado e depois como presidente, como ressaltado no início deste artigo. Além disso, desmantelou as áreas de Cultura, Esporte, Saúde e Educação, só para citar exemplos.

O governo Lula da Silva para vencer necessitou de uma aliança ampla que uniu petistas a ex-inimigos como o atual vice-presidente Geraldo Alckimin, que já disputou eleição contra Lula pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Reúne um arco de partidos e pessoas com pensamentos diversos e contraditórios. De momento, isso parece não preocupar Lula, que já decretou estado de emergência de saúde na terra yanomami e promete ações para acabar com o garimpo ilegal.

Além disso, fez um revogaço aos decretos de Bolsonaro que permitiam o armamento da população e agora com as novas regras restringem a facilidade que havia de acesso às armas. Também restabeleceu os ministérios da Cultura e de Esportes, que podem resgatar muitos brasileiros da indigência.

Como ressaltado ao princípio, o governo Lula não será fácil, nem é o ideal, devido aos matizes de forças políticas que reúne, em face à necessidade de fazer frente à extrema direita. No entanto, já carrega uma vitória extraordinária: estancar a política de morte bolsonarista em diversas frentes e tirar o país do poço de indigência moral em que se encontrava.


Taíza Brito é uma jornalista brasileira, e dirige o blog Mundo Afora